
A guerra no Iraque teve graves consequências nas relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a França.
O ímpeto diplomático imprimido pelos franceses contra a guerra revanchista do clã Bush contra Saddam Hussein, não tinha a intenção de preservar a paz e o direito internacional, ele era efectivamente empreendido para defender os seus interesses na região do Golfo Pérsico, pois como veio acontecer muitas empresas francesas vieram a ser prejudicadas em relação às suas congéneres norte-americanas.
Por outro lado, algumas opiniões, sobretudo dos países mulçumanos viam o persistente trabalho do então Ministro dos Negócios Estrangeiros, e actual Primeiro-Ministro de França, Villepin, com muito agrado, ao bater o pé aos Estados Unidos.
Imbecilmente, e em resposta à atitude “finca pé” de Villepin, a administração norte-americana implementaram e instigaram oficiosamente os seus compatriotas a boicotar e a destruir os bens vindos da França.
Extemporâneo ou não, este acto era sem dúvida um exemplo claro da razão da guerra – petróleo e negócios chorudos para as empresas do país do”Tio Sam”, e os franceses estavam a intrometer-se no seu caminho.
Passados estes anos, houve um acontecimento no Médio Oriente que aproximou americanos e franceses, a morte do antigo Primeiro-Ministro do Líbano, Rafic Hariri, que por sua vez, culparam a Síria de estar por trás do assassínio do político em questão.
De queridos inimigos, estas duas potências mundiais começaram a convergir numa região aonde têm interesses e preferências opostas, e bem como redes de influência diferentes.
O que levou a este volte face?
A situação no Iraque pode ser tudo menos dignificante para aqueles que queriam pacificar e democratizar, pelo contrário esta região está cada vez mais insustentável e perigosa, mais parecendo uma fortaleza de interesses obscuros.
Se recordarmos do rapto dos dois jornalistas franceses no Iraque, em plena discussão da lei da proibição do uso de símbolos religiosos nas instituições públicas francesas, e a forma como as opiniões públicas islâmicas lideram com o repugnante acto do rapto do dois jornalistas, foi o resultado mais visível dos esforços anti-guerra de Paris.
Por vezes acontecem alianças que pouco podemos compreender, sobretudo quando as feridas ainda não sararam por completo, mas quando o cheiro do dinheiro circula por perto toda a credibilidade e idoneidade vai por água abaixo.
Com é sabido, a França tem fortes relações com os países muçulmanos e os Estados Unidos têm laços de quase irmandade com Israel, e se ambos conseguissem apaziguar os ânimos mais exaltados de ambos os lados, podiam lucrar imenso os dois arqui-rivais.
O “decreto” de culpabilidade lançado à Síria em relação à morte de Hariri, fez deslumbrar o seu negócio latente, já que a Síria não serve os interesses de uns nem de outros.
Assim, e porque não há homogeneidade nos povos do Médio Oriente, a união de forças de americanos e franceses, capultando as suas influências para o mesmo sentido, isto é, dividir para depois reinar em conjunto, em vez de unilateralmente acercarem de toda a riqueza que não podem desfrutar convenientemente.
Mas, quando isto acontece, e a ânsia da conquista e da cobiça dos políticos estrangeiros atinge o auge, a estabilidade social dos povos a que estão atacar, é simplesmente irrelevante para a consumação dos seus objectivos.
O Líbano foi o primeiro a sentir esta maléfica aliança político-económica franco-americana, pois a sua tentativa de expurgar o Hezbollah e os xiitas do poder em coligação no país do cedro, pela via militar de Israel, e cortadas as ligações internas às tropas sírias, tudo seria conforme eles planearam.
Enganaram-se totalmente, pois o Hezbollah ficou ainda mais forte e o Líbano mais fraco.
O sofrimento que o povo libanês ficou sujeito e com o levantamento de uma grande poeira de divisão social, e com o despontar de alguns índicios de guerra civil, que a concretizar era a perversidade imperial dos senhores do mundo, com ou sem coligação abominável.